De repente...!
De repente você está aí e, de repente, descobre que o tempo, passando, foi quem lhe levou. Ou melhor, lhe trouxe até aí.
De repente você chegou aí sem perceber como. Foi caminhando, de repente, o caminho que se lhe apresentava e o trilhou.
Em muitos, muitos momentos, você teve e foi capaz de fazer escolhas. Independentemente de onde estavas, no tempo e no espaço, tenho certeza que foram muitas e difíceis as escolhas.
De repente percebo e espero que já tenhas percebido, que é, justamente, a combinação entre estas escolhas e seus pontos de partida que determinaram, ou permitiram, o fato de você ser quem é e de estar justamente aí, lendo estas palavras. A determinação em lê-las, a vontade de prosseguir na leitura, a reflexão que fizeres sobre ela (independentemente do ponto onde parares) ilustra um ciclo de decisões encadeadas que tomaste no tempo e que lhe carregaram de onde viestes, para onde estás e para onde irás.
Claro, as escolhas são, pelo menos aí e agora, suas. Da mesma forma que no momento em que eu escrevia estas palavras, eram minhas. Na verdade, tanto para mim, naquele momento, quanto para você agora, as escolhas resultaram da repetição exaustiva de exercícios cotidianos e sucessivos, desde a mais tenra e longínqua infância até o dia de amanhã.
Mas nem sempre foi assim!
Somente a partir de um determinado momento em sua existência, passaram a ser escolhas suas, mesmo que ainda não completamente. Muitas vezes você, como eu, não tivemos escolha, ou as escolhas que se nos apresentaram não expressavam de fato nossos desejos ou as alternativas de caminho que antes havíamos imaginado.
Mas, antes ainda, nem eu nem você fazíamos nossas escolhas. Antes de nos percebermos como pessoas, movíamos por escolhas de outros – pais, avós, irmãos, família, professoras, amigos. Mesmo hoje, adultos, não somos completamente donos de nossas escolhas.
Assim, as escolhas são, de certa forma, dadas. Fazemos escolhas tendo em vista a situação em que nos encontramos. Falo do ponto de vista da situação exata: no tempo, no espaço, na circunstância, no entorno, no acúmulo, no patrimônio, nas perspectivas do porvir, no que se passou, em onde estás e para onde queres ir. Ou seja, existe sempre um ponto anterior a cada momento, a cada decisão, e outro ponto anterior, até o ponto original para que possamos definir o tal ponto de vista. Dessa forma, o realmente importante é o ponto de vista original, ou melhor, o ponto de origem, o ponto de partida.
O ponto de vista que te levou a acreditar nas verdades que acreditas. O ponto de vista que me levou a acreditar nas verdades que acredito. O ponto de vista de cada um e, por conseguinte, a verdade de cada um. As verdades, mesmo que próximas, são diferentes. Únicas.
Observe: caímos aqui num mero acaso e passamos a ser o que nos atribuíram ser por mero acaso. Somos, portanto, uma paradoxal combinação de acasos e escolhas. Cada um de nós.
Um lado, o das escolhas, o racional, representa o lógico, o que pesa, mede, avalia e termina por definir o rumo, o próximo passo, o projeto, a busca. O outro, o dos acasos,o que expressa o imprevisível, o dado, o que nos permite e nos obriga tolerar, rever, reconhecer, ter esperanças, lutar.
Em verdade um lado não prepondera sobre o outro, mas, na medida em que envelhecemos, acumulamos experiências em conhecer, avaliar e escolher. Assim, passamos a valorizar mais este lado, que se baseia na racionalidade, e que, afinal, é o lado sobre o qual temos algum domínio, reconhecendo, envergonhados e medrosos, que há o outro lado, que nos pode surpreender em qualquer momento e por distintas causas.
Muitas vezes exercitamos tanto o lado que gostamos, que julgamos dominar, que terminamos por acreditar que temos mesmo o domínio sobre o caminho a trilhar, temos a convicção mais certa de para onde estamos indo, de que forma e quando iremos chegar.
Há pessoas, a maioria delas, que acreditam tanto nisto que terminam por desenvolver modelos de atuação, que pretendem influenciar, transformar, convencer os que estão à sua volta. Algumas delas formulam consensos possíveis em torno destas verdades comuns. A partir destes consensos, construíram-se e constroem-se as religiões, ideologias, projetos políticos e sociais, tratados e normas de convivência, sociedades e convicções coletivas, não universais, pois também as construções racionais e coletivas, decorrem de processos de escolha e de acasos.
Assim, não é difícil perceber que as regras coletivas, que caracterizam e expressam, cada sociedade, cada nação, cada comunidade – e sabemos que são tantas – são, por exemplo, pontos de partida de cada um.
O nascimento é o ponto original de cada um ou uma. O fato de ser um ou uma já é um primeiro acaso, sobre o qual não temos qualquer capacidade de influenciar. Ademais, nascemos, num momento único e num lugar específico e, portanto, trazemos na bagagem a circunstância temporal onde se desenvolveu nossa existência e os deveres e direitos inerentes à nossas sociedades, nacionalidades e naturalidades.
Novos acasos, dados, princípios sobre os quais não podemos influenciar. Contudo, este conjunto de acasos que são atributos específicos de cada nascimento, de cada pessoa e condicionantes essenciais de sua existência, resulta de uma escolha realizada simultaneamente por uma mulher e um homem, que num determinado momento, movidos por uma circunstância especial, num determinado lugar, pertencentes ou não a uma mesma sociedade, nação, grupo étnico ou classe econômica e social, decidiram copular, com ou sem a intenção de conceber e conceberam.
Aconteceu comigo e com você! Concorda?!
Imagine agora, por exemplo, quem sou, onde estava quando escrevia isto, que decisões me levaram a escrever ou constatar isto, que acasos, quais as combinações de decisões e acasos? ....
E você? Ainda está ai? Quantas e quais combinações de acasos e decisões explicam seu trajeto do ponto original, seu ponto original, até aqui....
... um longo repente!
em 2006 e 2007
De repente você está aí e, de repente, descobre que o tempo, passando, foi quem lhe levou. Ou melhor, lhe trouxe até aí.
De repente você chegou aí sem perceber como. Foi caminhando, de repente, o caminho que se lhe apresentava e o trilhou.
Em muitos, muitos momentos, você teve e foi capaz de fazer escolhas. Independentemente de onde estavas, no tempo e no espaço, tenho certeza que foram muitas e difíceis as escolhas.
De repente percebo e espero que já tenhas percebido, que é, justamente, a combinação entre estas escolhas e seus pontos de partida que determinaram, ou permitiram, o fato de você ser quem é e de estar justamente aí, lendo estas palavras. A determinação em lê-las, a vontade de prosseguir na leitura, a reflexão que fizeres sobre ela (independentemente do ponto onde parares) ilustra um ciclo de decisões encadeadas que tomaste no tempo e que lhe carregaram de onde viestes, para onde estás e para onde irás.
Claro, as escolhas são, pelo menos aí e agora, suas. Da mesma forma que no momento em que eu escrevia estas palavras, eram minhas. Na verdade, tanto para mim, naquele momento, quanto para você agora, as escolhas resultaram da repetição exaustiva de exercícios cotidianos e sucessivos, desde a mais tenra e longínqua infância até o dia de amanhã.
Mas nem sempre foi assim!
Somente a partir de um determinado momento em sua existência, passaram a ser escolhas suas, mesmo que ainda não completamente. Muitas vezes você, como eu, não tivemos escolha, ou as escolhas que se nos apresentaram não expressavam de fato nossos desejos ou as alternativas de caminho que antes havíamos imaginado.
Mas, antes ainda, nem eu nem você fazíamos nossas escolhas. Antes de nos percebermos como pessoas, movíamos por escolhas de outros – pais, avós, irmãos, família, professoras, amigos. Mesmo hoje, adultos, não somos completamente donos de nossas escolhas.
Assim, as escolhas são, de certa forma, dadas. Fazemos escolhas tendo em vista a situação em que nos encontramos. Falo do ponto de vista da situação exata: no tempo, no espaço, na circunstância, no entorno, no acúmulo, no patrimônio, nas perspectivas do porvir, no que se passou, em onde estás e para onde queres ir. Ou seja, existe sempre um ponto anterior a cada momento, a cada decisão, e outro ponto anterior, até o ponto original para que possamos definir o tal ponto de vista. Dessa forma, o realmente importante é o ponto de vista original, ou melhor, o ponto de origem, o ponto de partida.
O ponto de vista que te levou a acreditar nas verdades que acreditas. O ponto de vista que me levou a acreditar nas verdades que acredito. O ponto de vista de cada um e, por conseguinte, a verdade de cada um. As verdades, mesmo que próximas, são diferentes. Únicas.
Observe: caímos aqui num mero acaso e passamos a ser o que nos atribuíram ser por mero acaso. Somos, portanto, uma paradoxal combinação de acasos e escolhas. Cada um de nós.
Um lado, o das escolhas, o racional, representa o lógico, o que pesa, mede, avalia e termina por definir o rumo, o próximo passo, o projeto, a busca. O outro, o dos acasos,o que expressa o imprevisível, o dado, o que nos permite e nos obriga tolerar, rever, reconhecer, ter esperanças, lutar.
Em verdade um lado não prepondera sobre o outro, mas, na medida em que envelhecemos, acumulamos experiências em conhecer, avaliar e escolher. Assim, passamos a valorizar mais este lado, que se baseia na racionalidade, e que, afinal, é o lado sobre o qual temos algum domínio, reconhecendo, envergonhados e medrosos, que há o outro lado, que nos pode surpreender em qualquer momento e por distintas causas.
Muitas vezes exercitamos tanto o lado que gostamos, que julgamos dominar, que terminamos por acreditar que temos mesmo o domínio sobre o caminho a trilhar, temos a convicção mais certa de para onde estamos indo, de que forma e quando iremos chegar.
Há pessoas, a maioria delas, que acreditam tanto nisto que terminam por desenvolver modelos de atuação, que pretendem influenciar, transformar, convencer os que estão à sua volta. Algumas delas formulam consensos possíveis em torno destas verdades comuns. A partir destes consensos, construíram-se e constroem-se as religiões, ideologias, projetos políticos e sociais, tratados e normas de convivência, sociedades e convicções coletivas, não universais, pois também as construções racionais e coletivas, decorrem de processos de escolha e de acasos.
Assim, não é difícil perceber que as regras coletivas, que caracterizam e expressam, cada sociedade, cada nação, cada comunidade – e sabemos que são tantas – são, por exemplo, pontos de partida de cada um.
O nascimento é o ponto original de cada um ou uma. O fato de ser um ou uma já é um primeiro acaso, sobre o qual não temos qualquer capacidade de influenciar. Ademais, nascemos, num momento único e num lugar específico e, portanto, trazemos na bagagem a circunstância temporal onde se desenvolveu nossa existência e os deveres e direitos inerentes à nossas sociedades, nacionalidades e naturalidades.
Novos acasos, dados, princípios sobre os quais não podemos influenciar. Contudo, este conjunto de acasos que são atributos específicos de cada nascimento, de cada pessoa e condicionantes essenciais de sua existência, resulta de uma escolha realizada simultaneamente por uma mulher e um homem, que num determinado momento, movidos por uma circunstância especial, num determinado lugar, pertencentes ou não a uma mesma sociedade, nação, grupo étnico ou classe econômica e social, decidiram copular, com ou sem a intenção de conceber e conceberam.
Aconteceu comigo e com você! Concorda?!
Imagine agora, por exemplo, quem sou, onde estava quando escrevia isto, que decisões me levaram a escrever ou constatar isto, que acasos, quais as combinações de decisões e acasos? ....
E você? Ainda está ai? Quantas e quais combinações de acasos e decisões explicam seu trajeto do ponto original, seu ponto original, até aqui....
... um longo repente!
em 2006 e 2007
2 Comentários:
Muito interessante.
Outro dia pensei algo aproximado: que tudo, a partir de um determinado nível de precisão, seria aleatório...
Viajar é preciso...
Bela forma de se tratar da liberdade, que é o que se faz dentro de um espaço determinado, das condições de possibilidade.
Não seria esse o caso tanto para mim e para você quanto para a humanidade?
Os processos mais primitivos nos determinam: pense na relação entre o longo e penoso processo, empreendido pelo homem, de se firmar enquanto ser que anda com duas pernas, postura ereta, e o bebê que "sofre" a demanda cultural de aprender a andar.
Amar, casar, comprar, trepar assim ou assado, bombardear o Iraque... Livre escolha? Não. Escolha? Sim e não.
É certo que o fato de nascermos é resultado do encontro de dois, que por sua vez é o resultado desse moto-contínuo civilizatório, bom ou mau, seja ele encarado por nós (em nossas escolhas e pontos de vista) como progresso ou retrocesso.
Mas a janelinha da liberdade sempre está por lá, por menor que seja, nessa quase alcova que é nossa viva neste mundo.
Veja, por exemplo, as belas telas do Jonas.
Abraços.
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