terça-feira, 20 de janeiro de 2009

2008.doc

Estamos às portas de 2008! Já é 2008 na Austrália, por exemplo.

Em 2008 comemora-se o bicentenário da chegada da família real ao Brasil, ou seja, a fundação mesma da Nação brasileira. Comemora-se o cinquentenário da primeira Copa do Mundo conquistada pelo Brasil, os quarenta anos da revolução pacífica de 1968, que colocou o mundo diante das portas da pós-modernidade e os vinte anos de nossa constituição cidadã, que recolocou o país no rumo da democracía.

No mínimo um ano simbólico e pleno de expectativas de novos e bons fatos, novos e bons ciclos. 2007 termina com saldo, depois de saltos, sobressaltos e sustos. No planeta, no continente, na nação, na cidade, na família, na vida pessoal. Um ano de muitas lutas e muitas transformações. Em todas as escalas, indícios nervosos de mudanças, de recomeços, de novos cíclos. Em todos os corações as esperanças de que em 2008 os caminhos se definam e surjam mais luzes no fím dos túneis.

A progressiva e global consciência ecológica, o reconhecimento das ameaças das mudanças climáticas são fatos positivos que vêm marcando as transformações recentes em escala planetária, que podem nos levar a manter a esperança de que a humanidade tome juízo em futuro não tão distante. Todavia, se é possível perceber uma evolução no comportamento coletivo em relação ao habitat o mesmo não se pode dizer das recorrentes dissensões entre as pessoas que constituem essa humanidade.

O assassinato de Benazir Butho, no Paquistão, na última quinzena do ano é apenas mais um marco dos conflitos islâmicos que, se têm o fulcro no oriente médio, estendem-se incessantemente na direção da Ásia e da África e penetra como uma hera viçosa nos muros do mundo ocidental, apesar dos estertores malignos do Senhor da Guerra, G.W. Bush, que à frente do mais poderoso exército do planeta destrói e corrói a paz, acreditando ser capaz de impor sua cultura, seu domínio e seu Deus a todos os povos do planeta. Em sete anos destruiu o Afganistão e o Iraque – que apesar de não ter bomba nenhuma foi e está sendo principal cenário de tragédias onde tombam cotidianamente rebeldes, civis, mulheres, velhos, crianças e até um sem números de jovens soldados americanos. E Bin Laden também não estava lá, e Al Qaeda também não se rendeu, como não se renderam os Talibãs, e os muitos exercitos do Islã, de Maomé, de Alá que como o louco de cá, insistem em se destruir e corroer a paz do lado de lá, numa briga fraticida que parece não ter fim.

Por trás de tudo o petróleo e as distintas e nem tão conflituosas concepções de Deus.

Por aqui, pelo continente latinoamericano, surge e se afirma um novo lider de uma “isquierda revolucionária” que busco em Simon Bolivar sua inspiração e parece ainda nem ter chegado a 1968. Hugo Chavez o semi-ditador da Venezuela, também navegando sobre um mar de petróleo, cutuca, para satisfação de todos, o senhor de guerra com vara curta e para pânico geral patrocina a expansão de uma ideologia bolivariana pelos demais paises do continente, apoiando-se em conflitos étinicos adormecidos e latentes e semeando a dissenção e confronto entre os povos da Bolívia, do Equador, do Perú, da Argentina e da Colômbia, seu alvo atual, apoiando-se ainda numa suposta e mal resolvida aliança com as esquerdas chilena, brasilera e uruguaia, também pelo menos do ponto de vista formal desfrutando do domínio dos respectivos Estados. Como se promover o resgate de injustiças históricas e de confrontos e conflitos coloniais fossem nos colocar num novo edem de equidade e justiça social. Uma grande miscelânia ideológica e comportamental que captura os incautos e dá novos tons ao jogo de poder no continente.

2007 termina com um sensacional factoide que é apenas mais um emblema deste processo que pôe em cheque uma suposta e sempre instável harmonia política na América Latina e permite a expansão de um populismo que, se ameniza, está longe de efetivamente combater as causas dos abismos sociais herdados da colonização pelos paises do continente. Trata-se da libertação negociada por Chaves de três refens das FARCS que alinha Sarcozzi, o novo lider da direita francesa, ao eterno Fidel e reune observadores do mundo todo no miolo da floresta amazônica, num local e numa data ainda não definidos.

Ao lado dos conflitos intermináveis a União Européia afirma sua pujança, supera os conflitos étnicos, amplia-se e prepara-se para progressivamente retomar o timão da civilização ocidental, da civilização global. No extremo oriente, a China marcou encontro com o capitalismo global e expande sua economia e seu consumismo por cima de seu comunismo em velocidade nunca antes vista. A Africa, ainda esquecida dos deuses, recupera-se lentamente minada, de um lado, por conflitos étnicos recorrentes e pela expansão muçulmana desde o oriente médio e, de outro, pela cobiça do capital que conhece e explora as entranhas do continente em busca de suas muitas riquezas ali ainda adormecidas.

Cada vez mais, num mundo pequeno para tanta informação, convivemos com estes fatos em nosso cotidiano, da mesma forma como vemos os eventos esportivos e falamos com quem quisermos e onde quisermos a qualquer hora. Podemos assim, assistir de camarote ou até mesmo interagir com este processo de fragmentação paradoxal que em muito se assemelha a uma espécie de idade média pós-moderna. Incertezas sociais, conflitos étnicos e afirmações religiosas alimentam o ódio e a fragmentação da aldeia global, onde os impérios se esfarelam pouco a pouco e os Estados nacionais parecem perder espaços para outras instituições, grandes coprporações e pequenos guetos religiosos.

Por aqui, as coisas não foram tão mal, mas não estivemos a margem dos fatos do mundo. Ao contrário pegamos uma boa carona na expansão da economia global que se alimenta, justamente desse conflitos e paradoxos e permite a afirmação do único modelo ecômico conhecido pela humanidade, o da acumulação capitalista. Assim expandimos nossa economia abaixo do possível, mas muito acima do esperado. Fizemos o dever de casa liberal direitinho e mantivemos um crescimento sustentado sem inflação, honrando com presteza os “compromissos internacionais”.

Lula cumpriu seu sexto ano de governo, o primeiro do segundo mandato, e permanece nos braços do povo que acredita piamente que foi ele o único responsável pelos bons momentos. Com seu carisma formidável e falando errado, como seu próprio povo, sabe capitalizar os sucessos seus e os dos outros e espantar fracassos e decepções com seu partido e com sua gente, que segue corrompida e corrompendo, como se nada tivesse com isto. Não importa, importa o saldo de algumas conquistas populares e o barco no rumo certo, sem por em prática as bravatas que apregoa e sem envolver-se além da conta com a revolução bolivariana de Chaves. Importa é mais emprego, economia estável, o Bolsa Família que se cumpre propósitos assistencialistas e populistas, permite também a injeção de mais recursos na economia e avanços na distribuição da renda.

Contudo, nem tudo está certo, aliás muita coisa está errada: na infra-estrutra, o que pode representar um gargalo efetivo à saltos mais amplos de desenvolvimento em 2008, na educação das crianças e jovens, o que compromete nosso futuro, no aparato de atendimento a saúde da população, que parece involuir e na segurança pública, nosso mais grave problema e que afeta sobretudo a qualidade de vida em nossas maiores cidades.

Apesar de tudo nosso Rio de Janeiro continua lindo, com um verão radioso e caliente que ilumina os próximos momentos, com 600.000 turistas a juntar-se às comemorações da virada, numa corrente de energia que não há como superar. Apesar da insegurança a festa está pronta e deverá reunir, cerca de 2,5 milhões de pessoas na extensa orla da cidade. Assim chega 2008, como todos os anos com festas, fogos e esperanças e muitas responsabilidades para manter as conquistas e avanços, como a consciência ecológica ou expansão das oportunidades econômicas e do emprego aqui e mundo a fora, e com maiores responsabilidades para que os rumos dos processos de transformação de fato nos levem e menos fragmentações, menos conflitos étnicos e religiosos, mais telerância, menos sectarismo e muito mais paz e menos violência aqui e mundo a fora.

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 2007
Alexandre Santos

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