terça-feira, 20 de janeiro de 2009

VIVA OBAMA!
QUE SUA "INAUGURATION", CARREGADA DE ESPERANÇAS
TRAGA AS MUDANÇASS ESPERADAS!
BOA SORTE!
20/01/2009
2009.doc

2009 chegou pleno de presságios!

Estranhamente, pouco ouvi e, sobretudo, li neste último final de ano projeções e perspectivas alvissareiras de porvir. O papo é sempre: como resolver os imbróglios derivados dos acontecimentos do último trimestre de 2008? A crise na economia global, o estouro da bolha do mercado financeiro internacional, a queda no valor das commodities, os rearranjos no câmbio, a retração no crescimento da economia chinesa, as repercussões da crise em nosso país – um tsunami, segundo os analistas, uma marolinha, segundo o presidente.

Certamente, nem uma coisa nem outra, mas os efeitos se fazem sentir, no valor do dólar, na queda de nossa balança comercial, no achatamento dos preços do petróleo, do aço, do ferro, na diminuição das compras chinesas, americanas etc.

E, como se não bastassem as perplexidades na economia global, o governo, ou melhor seria o desgoverno de Israel, resolveu presentear o mundo neste final de ano, começo de outro, com uma chacina da população civil palestina na Faixa de Gaza, derrubando em minutos, os muitos esforços de pacificação daquela porção do planeta. Sementes de ódio distribuídas pelo ar, pelo mar e pela terra destinadas, sobretudo, a germinar mais ódios e dissensões, a fabricar mais lutas e terroristas suicidas, a nos mostrar os limites de nossas pretensões à paz. Tudo feito em nome de Deus.

E por aqui, como se não bastassem as interrogações em torno das repercussões da crise da economia global e o medo de que os ódios religiosos, étnicos, ou o que seja, que se disseminam desde o oriente médio atinjam nossa sociedade, existem tormentos concretos causados pelas chuvas de verão, que chegaram no começo da estação e estão afligindo extensos segmentos da população dos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e deixam um legado de desafios por superar. Mortes, desabrigo, doenças contagiosas, prejuízos materiais incontáveis, paralisação na produção industrial em alguns lugares e as chuvas que não cessam e deixam a alma triste como a paisagem.

A verdade é que o clima é de apreensão, mesmo que também seja, como sempre de renovação dos ciclos da vida e de esperanças de porvir. Quem sabe este ano patinho-feio não se transformará no cisne mais belo do lago e as coisas mudem de tal maneira que ao fim e ao cabo a superação dos desafios postos nos conduza a novos e mais sustentáveis caminhos. A uma nova ordem, como exigem alguns!

Do lado da esperança e destas novas possibilidades está a tão propalada posse de Obama. Obama, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, um jovem de origem multiétnica, nascido no mais novo e mais longínquo estado americano, com um nome islâmico, um democrata ousado. Antes de tudo, um símbolo de mudança e, pelo menos, a esperança de uma nova e mais conseqüente postura dos arrogantes donos do poder global, em cujos intestinos fermenta a tal crise. Um nome novo, um homem novo, para conduzir uma mudança que tem de ser maior do que pode uma pessoa faze-lo. Será preciso uma mobilização mundial, que já se desenha, embora,ainda sem grandes resultados.

Pelo menos nos livramos do Senhor da Guerra. Já é um começo...

Entre nós, o discurso de grandeza e de esperança permanece na voz de nosso Lula, que, claro, não pode sair por ai apregoando dificuldades e não pode suprimir a esperança que ele, como ninguém sabe disseminar. Mas temo, que isto seja pouco se as coisas não mudarem mesmo mundo afora.

E tem as mudanças climáticas e tem as evidentes intempéries que precisam ser equacionadas de vez, sob pena da nossa querida biosfera abrir o bico e começar a cuspir tempestades, como já vem fazendo, a soprar ventos, a esgotar rios, a esturricar terras férteis sob o sol inclemente. Trata-se de uma missão formidável, onde todos, todos mesmo, precisam fazer a sua parte. É verdade que avançamos, é verdade que nos mobilizamos, mas temo que a urgência não nos permite ser mais condescendentes com soluções parciais.

Pois é, parece mesmo que estamos no limiar de uma nova era ou de uma nova ordem.

As eras nesses tempos duram poucos anos. Há 80 anos precisamente, mergulhávamos na mais profunda crise do então capitalismo moderno. O mundo quebrou e a partir dali foram vinte anos que se passaram na construção de um novo modelo de acumulação fundado na disseminação do estado de bem-estar, logo após o final da grande guerra. Foi necessária uma guerra de alcance planetário para que as novas bases do modelo e do sistema fossem estabelecidas.

Dali em diante e por vinte anos vivenciamos os anos dourados da acumulação capitalista nas nações ocidentais. Mas tudo isto era pouco, era preciso estender o manto a todo o planeta. A acumulação exigia mais!

Há 40 anos, justamente em 1969, fizemos nossa primeira transmissão via satélite para todo o planeta. Presenciávamos então a descida do homem na Lua. Pode se marcar aquele feito como o início desta era que agora exige um novo rumo.

Conta-se que em minha terra, lá pras bandas do Alto do Moura, em Caruaru, todo o povo da comunidade estava reunida em torno da única televisão, no boteco do Bil, para ver o feito memorável da humanidade. Apenas seu Inocêncio, um provecto e respeitado senhor, mantinha-se em sua mesa no canto do boteco a saborear sua Pitu. Diante da tal indiferença todos o convocavam insistentemente para ver o feito, para testemunhar a história. Ele, cético, desacreditava de tudo. De que o homem desceria na Lua, de qualquer coisa que passava na televisão (que não entendia bem) e de que tudo que ocorria naquele momento na Lua pudesse ser presenciado assim, sem mais nem menos, em qualquer canto. Diante da insistência dos amigos e de zombaria dos mais jovens em relação à sua descrença, terminou por concordar parcialmente. Mas, mantendo seu desinteresse, colocou a seguinte questão: “Digamos que vocês tenham razão, que os homens que estão nesta nave espacial, cheguem mesmo na lua, Digamos que esta máquina infernal seja de fato capaz de filmar e mostrar pra gente na horinha o que está acontecendo na Lua, mas eu pergunto: Há alguém de Caruaru nesta nave? Se não há, então porque todo este interesse de vocês por isto tudo?”

Naqueles tempos, não tão longínquos, o mundo para a grande maioria das pessoas terminava próximo ao horizonte. O que se passava nos lugares mesmos, com as pessoas conhecidas é que tinha importância. O que seu Inocêncio não poderia perceber, e por certo também todos ou quase todos que ali estavam, é que muito mais importante do que o simbolismo do homem descer na Lua, estava o fato de que naquele momento se rompiam as barreiras das distâncias, se inaugurava a simultaneidade global, se estabeleciam às condições tecnológicas para um novo modelo de acumulação.

Mas isto não seria ainda suficiente! Em 1989, 20 anos depois portanto, caiu o muro de Berlim. Um feito e um fato que simbolizava a vitória das democracias liberais num processo que já se construía há mais de uma década e que punha por terra todos os projetos de ditaduras, à esquerda e à direita do espectro ideológico e que abria fronteiras econômicas mesmo no mundo enigmático dos chineses. A queda do muro, há 20 anos, foi apenas mais um passo simbólico do que se construía em termos de condições políticas na escala global para que o sistema econômico “evoluísse” para o que convencionamos chamar de globalização.

De qualquer forma, foram mais uma vez 20 anos para que as condições de uma nova ordem fossem plenamente estabelecidas. Nestes últimos 20 anos, vivenciamos plenamente, portanto, a evolução do produto mais acabado do capitalismo financeiro e neles “o distante tornou-se próximo” , os fatos e feitos de todos e em todos os lugares passaram a fazer parte de nossos cotidianos, transmitidos ao vivo pela TV, discutidos à mesa do jantar, como se falássemos dos miados do novo gato da vizinha de porta. Neste tempo o consumismo exacerbou-se e tudo, graças aos créditos ilimitados, e as inúmeras possibilidades de trocas comerciais estabelecidas em escala planetária, tudo parecia estar ao alcance da mão e do bolso. O progresso parecia ilimitado e com o crescimento econômico nunca visto, as inovações tecnológicas cada vez mais fantásticas, a questão da redistribuição dos benefícios parecia apenas uma questão de tempo e de alguns ajustes internos em cada um dos paises.

Mas a África seguia à margem do processo, mas as injustiças sociais se avolumavam, mas as dissensões religiosas, étnicas e culturais se sublimavam e fermentavam os conflitos nos lugares, de toda forma estes também funcionais para o azeitamento do sistema. Até que o blefe foi revelado, até que a bolha explodisse e os limites ficassem à vista de todos, justamente no final de 2008, quando o ciclo de acumulação global, tal como agora se desenha, revelou seu esgotamento.

De bom, de fato, a afirmação das democracias em todos os lugares e as lutas por diretos e pela preservação dos recursos ambientais. Lutas, tão somente, que evoluem, mas ainda com poucos resultados, já que a acumulação desenfreada está sempre à frente nesta corrida sem fim. De lúcido, o aprendizado dos ideogramas chineses que representam a expressão crise, pela combinação dos ideogramas: problemas e oportunidades.

Chegamos assim a 2009, como se vivêssemos o fim de uma era, que levou vinte anos sendo parida e que durou vinte anos e que nos apresenta problemas muitos a serem superados e que podem representar a oportunidade do encontro com uma nova ordem internacional, mais justa e sustentável. Quem sabe, daqui a mais 20 anos conseguiremos construir bases mais sólidas desta nova ordem. Vamos ter esperança e mais que tudo, lutar por isto. 2009 pode e deve ser o ponto de partida!

Rio de janeiro, 06/01/2009
Alexandre Santos
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Estamos às portas de 2008! Já é 2008 na Austrália, por exemplo.

Em 2008 comemora-se o bicentenário da chegada da família real ao Brasil, ou seja, a fundação mesma da Nação brasileira. Comemora-se o cinquentenário da primeira Copa do Mundo conquistada pelo Brasil, os quarenta anos da revolução pacífica de 1968, que colocou o mundo diante das portas da pós-modernidade e os vinte anos de nossa constituição cidadã, que recolocou o país no rumo da democracía.

No mínimo um ano simbólico e pleno de expectativas de novos e bons fatos, novos e bons ciclos. 2007 termina com saldo, depois de saltos, sobressaltos e sustos. No planeta, no continente, na nação, na cidade, na família, na vida pessoal. Um ano de muitas lutas e muitas transformações. Em todas as escalas, indícios nervosos de mudanças, de recomeços, de novos cíclos. Em todos os corações as esperanças de que em 2008 os caminhos se definam e surjam mais luzes no fím dos túneis.

A progressiva e global consciência ecológica, o reconhecimento das ameaças das mudanças climáticas são fatos positivos que vêm marcando as transformações recentes em escala planetária, que podem nos levar a manter a esperança de que a humanidade tome juízo em futuro não tão distante. Todavia, se é possível perceber uma evolução no comportamento coletivo em relação ao habitat o mesmo não se pode dizer das recorrentes dissensões entre as pessoas que constituem essa humanidade.

O assassinato de Benazir Butho, no Paquistão, na última quinzena do ano é apenas mais um marco dos conflitos islâmicos que, se têm o fulcro no oriente médio, estendem-se incessantemente na direção da Ásia e da África e penetra como uma hera viçosa nos muros do mundo ocidental, apesar dos estertores malignos do Senhor da Guerra, G.W. Bush, que à frente do mais poderoso exército do planeta destrói e corrói a paz, acreditando ser capaz de impor sua cultura, seu domínio e seu Deus a todos os povos do planeta. Em sete anos destruiu o Afganistão e o Iraque – que apesar de não ter bomba nenhuma foi e está sendo principal cenário de tragédias onde tombam cotidianamente rebeldes, civis, mulheres, velhos, crianças e até um sem números de jovens soldados americanos. E Bin Laden também não estava lá, e Al Qaeda também não se rendeu, como não se renderam os Talibãs, e os muitos exercitos do Islã, de Maomé, de Alá que como o louco de cá, insistem em se destruir e corroer a paz do lado de lá, numa briga fraticida que parece não ter fim.

Por trás de tudo o petróleo e as distintas e nem tão conflituosas concepções de Deus.

Por aqui, pelo continente latinoamericano, surge e se afirma um novo lider de uma “isquierda revolucionária” que busco em Simon Bolivar sua inspiração e parece ainda nem ter chegado a 1968. Hugo Chavez o semi-ditador da Venezuela, também navegando sobre um mar de petróleo, cutuca, para satisfação de todos, o senhor de guerra com vara curta e para pânico geral patrocina a expansão de uma ideologia bolivariana pelos demais paises do continente, apoiando-se em conflitos étinicos adormecidos e latentes e semeando a dissenção e confronto entre os povos da Bolívia, do Equador, do Perú, da Argentina e da Colômbia, seu alvo atual, apoiando-se ainda numa suposta e mal resolvida aliança com as esquerdas chilena, brasilera e uruguaia, também pelo menos do ponto de vista formal desfrutando do domínio dos respectivos Estados. Como se promover o resgate de injustiças históricas e de confrontos e conflitos coloniais fossem nos colocar num novo edem de equidade e justiça social. Uma grande miscelânia ideológica e comportamental que captura os incautos e dá novos tons ao jogo de poder no continente.

2007 termina com um sensacional factoide que é apenas mais um emblema deste processo que pôe em cheque uma suposta e sempre instável harmonia política na América Latina e permite a expansão de um populismo que, se ameniza, está longe de efetivamente combater as causas dos abismos sociais herdados da colonização pelos paises do continente. Trata-se da libertação negociada por Chaves de três refens das FARCS que alinha Sarcozzi, o novo lider da direita francesa, ao eterno Fidel e reune observadores do mundo todo no miolo da floresta amazônica, num local e numa data ainda não definidos.

Ao lado dos conflitos intermináveis a União Européia afirma sua pujança, supera os conflitos étnicos, amplia-se e prepara-se para progressivamente retomar o timão da civilização ocidental, da civilização global. No extremo oriente, a China marcou encontro com o capitalismo global e expande sua economia e seu consumismo por cima de seu comunismo em velocidade nunca antes vista. A Africa, ainda esquecida dos deuses, recupera-se lentamente minada, de um lado, por conflitos étnicos recorrentes e pela expansão muçulmana desde o oriente médio e, de outro, pela cobiça do capital que conhece e explora as entranhas do continente em busca de suas muitas riquezas ali ainda adormecidas.

Cada vez mais, num mundo pequeno para tanta informação, convivemos com estes fatos em nosso cotidiano, da mesma forma como vemos os eventos esportivos e falamos com quem quisermos e onde quisermos a qualquer hora. Podemos assim, assistir de camarote ou até mesmo interagir com este processo de fragmentação paradoxal que em muito se assemelha a uma espécie de idade média pós-moderna. Incertezas sociais, conflitos étnicos e afirmações religiosas alimentam o ódio e a fragmentação da aldeia global, onde os impérios se esfarelam pouco a pouco e os Estados nacionais parecem perder espaços para outras instituições, grandes coprporações e pequenos guetos religiosos.

Por aqui, as coisas não foram tão mal, mas não estivemos a margem dos fatos do mundo. Ao contrário pegamos uma boa carona na expansão da economia global que se alimenta, justamente desse conflitos e paradoxos e permite a afirmação do único modelo ecômico conhecido pela humanidade, o da acumulação capitalista. Assim expandimos nossa economia abaixo do possível, mas muito acima do esperado. Fizemos o dever de casa liberal direitinho e mantivemos um crescimento sustentado sem inflação, honrando com presteza os “compromissos internacionais”.

Lula cumpriu seu sexto ano de governo, o primeiro do segundo mandato, e permanece nos braços do povo que acredita piamente que foi ele o único responsável pelos bons momentos. Com seu carisma formidável e falando errado, como seu próprio povo, sabe capitalizar os sucessos seus e os dos outros e espantar fracassos e decepções com seu partido e com sua gente, que segue corrompida e corrompendo, como se nada tivesse com isto. Não importa, importa o saldo de algumas conquistas populares e o barco no rumo certo, sem por em prática as bravatas que apregoa e sem envolver-se além da conta com a revolução bolivariana de Chaves. Importa é mais emprego, economia estável, o Bolsa Família que se cumpre propósitos assistencialistas e populistas, permite também a injeção de mais recursos na economia e avanços na distribuição da renda.

Contudo, nem tudo está certo, aliás muita coisa está errada: na infra-estrutra, o que pode representar um gargalo efetivo à saltos mais amplos de desenvolvimento em 2008, na educação das crianças e jovens, o que compromete nosso futuro, no aparato de atendimento a saúde da população, que parece involuir e na segurança pública, nosso mais grave problema e que afeta sobretudo a qualidade de vida em nossas maiores cidades.

Apesar de tudo nosso Rio de Janeiro continua lindo, com um verão radioso e caliente que ilumina os próximos momentos, com 600.000 turistas a juntar-se às comemorações da virada, numa corrente de energia que não há como superar. Apesar da insegurança a festa está pronta e deverá reunir, cerca de 2,5 milhões de pessoas na extensa orla da cidade. Assim chega 2008, como todos os anos com festas, fogos e esperanças e muitas responsabilidades para manter as conquistas e avanços, como a consciência ecológica ou expansão das oportunidades econômicas e do emprego aqui e mundo a fora, e com maiores responsabilidades para que os rumos dos processos de transformação de fato nos levem e menos fragmentações, menos conflitos étnicos e religiosos, mais telerância, menos sectarismo e muito mais paz e menos violência aqui e mundo a fora.

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 2007
Alexandre Santos
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Estamos às portas de 2003. 2002, mal chegou e já passou e tantas coisas aconteceram e poucas coisas mudaram.

O arauto do apocalipse que governa o Império pôde, com o álibi do atentado ao Word Trade Center, arrasar o Afeganistão, abrir fogo diplomático contra o Iraque e atiçar os ódios dos seguidores de Alá.

Bin Laden, não foi encontrado, existiria ou seria apenas uma criação hollywoodiana?

Nunca tivemos tantos atentados em série, e mortes em série, notícias em série... e medo. Um medo: disfarçado, contido, irreal, como as imagens que todos os dias vemos e não sabemos distinguir sobre o que é e o que não é fantasia.

Como disse há algum tempo num versinho: “No louco movimento da humanidade, Paz é mera abstração, não sendo mais que utopia, é inverdade”.
A utopia perseguida e mais distante a cada novo dia. No mundo, no país, nas cidades, nos bairros, nas comunidades...

Vejo cada vez mais se concretizar um vaticínio exagerado e caricato que fiz desde os anos 80, a respeito do mundo do futuro, ou seja, o de hoje: caminhamos na direção de uma nova idade média, uma idade média pós-moderna. Algo que reproduziria numa escala atual a fragmentação do mundo que sucedeu à decadência e queda do Império Romano, quando, cada grupo, cada feudo, cada gueto, cada seita religiosa possuía uma vida única, própria, fechada, sujeita às suas próprias leis, e às suas estruturas próprias de subordinação e hierarquia social. A barbárie. A violência!!!

Depois disso, tantos foram os textos e os alertas para a fragmentação, face oposta da moeda globalização, que já sabíamos todos, mesmo sem recorrer à metáfora de uma idade média pós-moderna, que no seio da terra dos judeus, nasceria o ódio palestino; que das distinções culturais dos muçulmanos, germinariam as afirmações culturais de suas várias tribos; que na prosperidade européia do pós Euro vicejariam entre os jovens os movimentos punks e neo-nazistas; que entre os cristãos da Irlanda adviria o cisma; entre os pacifistas americanos pós 68 germinariam os patriotas amantes da guerra; que em meio à prosperidade tecnológica das cidades modernas abundariam os guetos miseráveis....

Tudo visto e revisto, olhado e comparado, fazendo germinar ódios irreversíveis, em cada porção de território, em cada nesga de sociedade.

Instala-se assim, progressivamente, o reinado do medo, da violência vivida e real e da violência vista e, de qualquer forma, sentida em nossas vísceras. Está em tudo o mundo e à nossa volta, em nosso cotidiano sempre. Convivemos com isto já, com a naturalidade necessária, e como medo, que nada resolve e se impõe.

Mas 2000, 2001, 2002, não vêm sendo apenas isto e também 2003 não haverá de sê-lo. Ao lado do medo renova-se sempre a esperança, registram-se sempre as conquistas. E não foram poucas as conquistas.

Pra começar ganhamos o campeonato mundial de futebol, pela quinta vez. Fomos Pentacampeões!! Alguns, a maioria, dos chefes do tráfico, nossos Bins Ladens, estão atrás das grades, sem, entretanto, perderem a pose e a voz de comando. A democracia, de uma maneira geral evoluiu, assim como as comunicações virtuais e em rede também.

(As redes, ah, as redes! Não as de embalar, nem de pescar, mas as de articular, de tornar cúmplice, de informar, de por em prontidão, de mobilizar os guetos todos, os feudos tantos do bem e do mal. As redes, ícones dos tempos pós-modernos!)

Aqui, deu baile e tal democracia. As eleições gerais mais limpas da história. O maior número de votantes dos tempos modernos. A eleição, para presidente, do metalúrgico Lula, tantas vezes candidato. Uma onda vermelha plena de esperanças e de pouco ou nenhum rancor. A transição inédita, tranqüila, civilizada. Carnavalileição!!. Tanta a festa que vem sendo, tanta alegria, tantas esperanças, como se até tudo estivesse perdido e fôssemos, finalmente, encontrar todas as saídas.

Às vésperas da posse já se sabe (mesmo os mais empedernidos ortodoxos) que o caminho afinal de contas é tortuoso mesmo e que as mudanças esperadas, mesmo as mais necessárias, terão que vir sem precipitação. As coisas caminham em seu próprio ritmo e não se resolvem questões sociais e de Estado com bravatas. O mais belo é que a maioria sabe muito bem disso: Desse limiar tênue entre utopia, realismo e frustração.

No mais a vida vai e as lições são aprendidas de forma lenta. O mundo fragmenta-se mais e mais. As cidades fracionam-se; a miséria multiplica-se, as crianças nascem, os velhos duram cada vez mais. E, ainda, se morre de fome. E, ainda, se sofre de tédio.

Mas a maioria dança, faz amor e canta a esperança da cura da Aids, da cura do câncer, do novo governo, da moralidade generalizada; de que passe um pouco de sensatez pela mente do bufão do Texas; de que o Iraque afinal de contas não tenha nenhuma arma de destruição em massa; de que o dólar se estabilize num patamar digno de nosso trabalho; de que os analistas de crédito das agências internacionais venham passar o carnaval aqui e fiquem e tenham filhos mulatos; de que a inflação não volte; de que os fogos que saúdem 2003 sejam ainda mais lindos do que nos anos anteriores, como sempre; de que as chuvas de verão não sejam maiores do que estas de final de primavera; e de que os guetos se calem ou falem, mas apenas discursos de paz.

Boa caminhada em 2003! Estarei a seu lado, espero...

Rio de Janeiro, ainda, em 16 de dezembro de 2002
Alexandre Santos
2002.doc

2002 chegou como vindo de um furacão, menos do que esperanças, traz expectativas, traz medos, traz perplexidades. Todos, é claro, esperam sempre dias melhores, todos, é claro, falam de paz, todos falam em uníssono palavras de alegria...mas, no fundo têm a certeza que a escolha declarada pela ética, pela razão, pela solidariedade esta longe de seus poderes alcançar. Curioso é que ninguém é mau, ninguém defende posições contra o ser humano, contra o ambiente, contra a ética, contra a moral. Todos, invariavelmente, situam-se como pessoas tolerantes. A culpa é sempre do outro, ou melhor, dos outros. A verdade é que a ganância, a cupidez, a intolerância, a insensatez coletiva prevalecem sempre, malgrado as escolhas individuais. Que digam os fatos de 2001.

2001 passou como o próprio furacão e trouxe demonstrações claras da cristalização dos processos que estavam, latentes, fermentando as almas e corações atormentados. Revelou mais do que o incômodo da violência cotidiana, mais do que as fraquezas de um sistema econômico perverso, muito mais do que estávamos acostumados ou preparados para saber, mesmo que jamais tenhamos deixado de sabê-lo. Revelou, por exemplo, que apesar do mundo ser cada mais uma aldeia global, onde todos se comunicam e se referenciam a um universo muito mais amplo do que seu próprio horizonte, não há uma lógica global, um código de ética global, um conjunto de verdades globais.

Por isso, todos têm medo, por isso se tem cuidado ao se ter esperança.

O bem e o mal foram de tal forma relativizados em 2001 e de tal forma foram revelados ao julgamento de cada um que, cada um sente-se no todo e sente o todo e por todos o temor. Nunca as telas das TVs, que estão em quase todos os lares, foram tão pródigas em notícias eloqüentes, nunca tivemos tanta oportunidade de viver e partilhar a tragédia humana, com tanta veemência. E, o que os olhos vêem o coração sente.

Em 2001, houve um 11 de setembro diferente de todos os outros milhares de onzes de setembros de antes e depois do Cristo. Neste 11 de setembro particular, o mundo, em pleno signo da ordem, pôs-se em desordem. Os conflitos cotidianos que marcaram o final do milênio, mantendo acesa a chama da guerra em nome de Deus para que as máquinas não parem, mudaram de feição.

Nele, as guerras longínquas, que víamos e vivíamos virtualmente, bateu às portas da capital do mundo ocidental. Nova York foi atacada, como nas ficções a que já estávamos acostumados, por terroristas fundamentalistas do Islã. Justiceiros suicidas que descobriram nova forma de morrer e de matar. As Torres Gêmeas, símbolo máximo do capitalismo mundializado, foram derrubadas em fração de minutos, deixando a morte e a devastação em seu rastro. Washington, capital da maior potência mundial, foi atacada da mesma forma e ao mesmo tempo. O Pentágono, símbolo máximo do poderio bélico norte americano, foi derrubado em fração de minutos, deixando a morte e a devastação em seu rastro. Num átimo descobriu-se que o rei estava nu. Num átimo todos os ocidentais descobriram, que para além de resistências islâmicas nas zonas de conflito da Europa e do Oriente Médio, havia muito mais ódio enquistado e havia um mundo inteiro, cheio de verdades que não são as ocidentais, pronto para agir e se preciso matar.

Em menos de meia hora mudou a história, mudou a perspectiva de olhar a história.

Não houve o apocalipse anunciado, a não ser, por certo, para quem lá estava e morreu no ato, certo de que o mundo estava mesmo se acabando. Tal o susto, tanto o fogo, tantas as mortes.

A este momento insano, sucederam-se outros de igual insensatez. A descoberta de que um homem, comandando outros, todos fanáticos por sua crença em um Deus tão poderoso que lhes movia para a morte sorridentes, fez-nos antever as trevas de uma nova idade. Instalou-se uma guerra global e tribal simultaneamente. Para caçar este homem, ainda não encontrado, destrui-se um país inteiro com bombas de US$ 1 milhão jogadas aos milhares. A sociedade judaico-cristã mostrou sua força, suas garras, seus dentes. O Islã revelou-se um mundo à parte, fragmentado, raivoso, triste, oprimido e opressor.

Tudo estava ali latente no início do milênio. Latente e distante como um filme de ficção. De repente, o distante tornou-se próximo. De repente, como diria o poeta, não mais que de repente.

2002 chega, portanto, sob o signo de uma guerra sem fronteiras e sem Estados. Uma guerra do bem contra o mal ou do mal contra o bem, dependendo do ponto de vista de quem olha, de quem vive, de quem está na guerra, de quem assiste a guerra.

Nós aqui, espectadores, continuamos com nossas idiossincrasias. Perplexos com as notícias que nos fazem chegar, ver, lamentar. Nunca, nos tempos pós-modernos, a notícia foi tão lapidada, maquiada, revista, para que nós não nos esqueçamos de nossa própria identidade e de que lado estamos.

Além da guerra lá, novas perplexidades foram notícia ca. A Argentina, tão altaneira, acabou-se nos fluxos financeiros da globalização. Sucumbiu como uma província qualquer, fazendo lembrar a nós, a todos os latinos, nossas fragilidades. A Europa inaugura 2002 com uma moeda continental, na luta secular para se destribalizar. Conseguira? A Austrália, centro da Oceania, pega fogo há semanas. E, a África, de tão miserável, de tão marginal, foi definitivamente esquecida pelos noticiários. Não há mais o problema africano, já que há muito mais o que ocupar nos noticiários mundiais. E apesar disso o Rio de Janeiro continua lindo, malgrado as chuvas e as mortes de verão. Como a aparência vale mais do que a essência...

A palavra de ordem neste início de 2002 é PAZ, sempre se falou em paz, sempre se buscou a paz, mas justamente a falta de paz é o que mais incomoda a todos.

Trata-se da falta de paz na vida cotidiana das pessoas, das famílias, nas ruas, nas praças, nos bairros, nas comunidades, nas cidades, nos países, nos continentes, entre os distintos mundos e as distintas verdades. Uma falta que decorre, para muitos, das impossibilidades de inclusão social dos outros, os que, justamente, rompem a paz dos incluídos, dos que lutam e trabalham e crêem e conseguem explicar e até se solidarizar com a atitude dos seus algozes, mas, ainda assim, algozes. Para outros, trata-se apenas de uma falta de tolerância e de capacidade de entender o outro e que um gesto de conforto, um abraço, pode trazer o excluído para um caminho onde ambos encontrem a paz. Para outros, ainda, o que prevalece para além do desejo de paz, é uma cultura de guerra, de violência, de impor soluções e idéias aos outros, os que não podem nem mesmo se expressar a não ser pela própria violência. Claro, todos têm razão, pelo menos um pouco de razão.

Mas afinal, se todos sabem pelo menos uma parte das respostas, quem perturba a paz?! O que impede que a paz realmente se estabeleça, que as pessoas todas, da família ao planeta, vivam em paz?

Por mim, o apelo para trilhar, com alegria e tolerância, o caminho da solidariedade e da comunhão com o meio ambiente e com os desvalidos deste mundo, continua de pé. Muito se falou e pouco se caminhou nesta direção em 2001...quem sabe 2002, nos traga esta oportunidade, a real oportunidade de paz, vamos tentar outra vez?!

Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 2002
Alexandre Santos
2001.doc

2001 chegou com festas, saudando a passagem do ano, da década, do século e do milênio. De tão esperado que era, chegou quase sem novidade, como um ano qualquer: convulsionado, tenso, furtivo, como vem sendo este tempo de mudanças.

Neste tempo, o mundo tornou-se uma aldeia, antes mesmo do que previra Macluhan. A evolução e revolução dos meios de comunicação transformaram nossas vidas pouco a pouco. Num átimo, passamos a achar natural assistir direto, ao vivo, da poltrona de nossa sala, a quebra de um recorde esportivo que acontecia do outro lado do mundo no dia seguinte ou as cenas de um terremoto que víamos na hora do jantar e estava acontecendo naquela manhã num pedaço de costa do Pacífico. Os “cérebros eletrônicos” experimentados no fim da guerra, no meio do século e que iniciaram sua popularização nos 70, tomaram conta da vida de cada um, tornado-se acessório indispensável ao trabalho e ao lazer. A conjugação destas duas revoluções nos proporcionou conhecer e conviver intensamente, ainda nos 90, com uma nova e inseparável companheira, a Internet, uma rede que nos pescou e nos impôs outro ritmo às vidas, outros termos ao vocabulário e valores comuns para interpretarmos as coisas.

Toda uma reformulação do ser, do poder ser, do crer, do viver passou sob meu nariz nestes últimos cinqüenta anos, os meus, com a mesma naturalidade da semente que rompe a casca, germina, torna-se broto, vira planta, dá folhas e frutos e lança outras sementes sobre a terra nua, no tempo entre duas estações.

2001 vinha chegando todo o tempo e quando chegou não era novidade. Como não eram novidades os sentimentos das pessoas, sempre os mesmos desde o início dos tempos, como não eram novidades os pecados, capitais e mortais, desde o início dos tempos, os mesmos.

As perguntas muitas delas respondidas pelo conhecimento, a cada dia mais refinado e amplo, geravam outras, cada dia mais complexas e inquietantes. A não resposta a todas elas continuava deixando um espaço vazio entre a racionalidade e a metafísica.

A tolerância continua um bem raro e, na falta de outros motivos, os seres humanos continuam a pelejar por qualquer causa ou dissensão. O novo mundo era velho, sobre muitos aspectos, embora mais conhecido, decifrado e com embalagem cada vez mais reluzente.

Agora não precisávamos mais de recorrer aos textos sagrados e ao saber erudito para sabermos um pouco sobre o conflito secular entre muçulmanos e judeus, podemos assisti-los matando-se todos os dias nas ruas de Jerusalém. Da mesma forma que muçulmanos e cristãos continuam pelejando nas fluidas fronteiras da Europa, ou, entre cristãos, protestantes e católicos disputam uma certa e inexplicável hegemonia no norte da ilha da rainha. Podemos assisti-los matando-se em todos os rincões, em nome de Deus, do Deus de cada um e que, cada um, ainda, pretende que seja melhor que o do outro.

Agora não precisamos ser iniciados em história para sabermos que a África é um continente esquecido pela humanidade e relegado a um plano marginal no consumo dos benefícios tecnológicos do desenvolvimento, podemos assistir seus povos sendo cotidianamente dizimados pela fome, pela miséria, pelas guerras tribais, pelos artefatos de guerras passadas esquecidos nas savanas, pelas doenças novas que ali nascem, como o próprio ser humano parece ali ter nascido, a dali se propagam para nos apresentar novas e mais eficazes e cruéis formas de morrer.

Agora não podemos esconder a vergonha dos contrastes sociais dos países latino-americanos, do Brasil, das nossas cidades. A violência cotidiana decorrente da pobreza extrema e da miséria à que estão condenados desde o nascimento muitos de nossos irmãos e irmãs, nos é noticiada de tal forma e tão intensamente que tornamo-nos indiferentes às manifestações diárias deste processo, com o qual também convivemos no mundo real, tropeçamos em nosso dia a dia. Assustamo-nos com a notícia, com a imagem virtual e ignoramos a imagem real, numa indecifrável confusão entre o que é e o que parece ser.

A fantasia confunde-se com a realidade, como a aparência parece sobrepor-se à essência, cada vez mais neste novo tempo.

Com 2001 o novo milênio chegou, mas já havia chegado, esteve aqui sempre incorporando-se ao nosso cotidiano, como a luz do sol, que nasce todos os dias ou o negror da noite que cobre a existência e marca a passagem das horas desde o início dos tempos. Somos dia e noite todo o tempo. E todo tempo vemos ressurgir a esperança “porque esperança é só coisa boa”.

De um lado, vemos ressurgir a solidariedade como um caminho para a superação de velhas idiossincrasias. De outro, vemos se afirmar a cupidez, como forma de manter as coisas como estão. De um lado, vemos a pregação da tolerância e da ética e repetimos a ladainha com as mil vozes e pelos milhões de meios que hoje temos disponíveis e de outro, vemos prevalecer a ganância, a inveja e a falta da mesma ética tão apregoada.

2001 não é a novidade da odisséia no espaço. Já fomos até lá, continuamos indo, e ainda deixamos para traz muitas respostas. 2001, também, não nos trouxe a tão apregoada ressurreição ou o juízo final. Trouxe-nos isto sim, já nos havia trazido, em telas de cristal líquido com cores e sons indiscutivelmente belos e reais, a tragédia humana para ser partilhada por todos.

Lega-se para 2001 dois caminhos definitivos para o milênio que se inicia: o cinismo e a indiferença diante do que não mais podemos ignorar embaralhando-nos cada vez mais na confusão entre o real e o virtual, o conveniente e o incômodo, ou, como outra alternativa, a disposição real para reconhecer que não passamos de um grupo de seres irmanados pelo mesmo mistério de existência concreta confinada entre a vida e a morte, condenados a sobreviver numa biosfera de recursos finitos, cujo o grande desafio será administrá-la de forma a dela retirar apenas o necessário à conquista da felicidade para todos, nesta e nas próximas gerações.

Parece uma escolha simples, a resposta mesma parece obvia. Apenas parece.

O legado de 2001 também não é novo e está ai presente, pelo menos desde que se descobriu que a Terra era redonda e que caminhando sempre em frente conseguiríamos chegar no mesmo lugar de onde partíramos. Lugar de onde, desde então, nem voltamos a partir ou, se partimos, para onde temos sempre voltado.

Esta na hora de empreendermos uma nova jornada, possivelmente, na direção deste segundo caminho jamais trilhado coletivamente. Talvez se começarmos a caminhar, mesmo que passo a passo, mesmo que cada um consigamos formar um grande cordão e alcancemos juntos um lugar novo, a mudança esperada, a boa nova de 2001...Vamos?

Rio de Janeiro, 03/ janeiro / 2001
Alexandre Santos